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Como a pandemia mudou as regras do mundo das finanças pessoais

10.03.2023
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As pessoas valorizam mais o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, fazendo “sacríficos financeiros” em prol da felicidade. ​​​​​​

O que mudou na vida financeira das pessoas após a pandemia por Covid-19? Com base nas conclusões de Jill Schlesinger, consultora financeira e analista de negócios na CBS News, citada pela Planet Money, a forma como estamos a encarar o trabalho está a tornar-se diferente, a flexibilidade é mais valorizada, o controlo do tempo e as condições de trabalho também, e estas são apenas algumas das alterações que irão afetar o mundo das finanças pessoais no futuro.

A autora do novo livro “The Great Money Reset”, que se baseou na experiência das conversas que teve com vários interlocutores no seu podcast financeiro pessoal, intitulado Jill on Money, sublinha que muitos dos participantes neste programa estavam a considerar uma mudança de vida, mas não sabiam em concreto como efetuá-la.

Schlesinger considera também que as questões sobre a mudança de emprego com vista a alcançar um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal não são inéditas no mundo das finanças pessoais, mas tornaram-se muito mais comuns durante a pandemia.

"Com o benefício do tempo e o sossego da pandemia, muitos concluíram que querem trabalhar menos ou de forma diferente, gozar de mais flexibilidade nos seus empregos, trabalhar num emprego menos stressante ou mudar para uma nova carreira. Não desejam necessariamente renunciar ao conforto da vida, mas estão dispostos a fazer pelo menos alguns sacrifícios financeiros”, afirma a consultora financeira.

SACRÍFIO FINANCEIRO? POR QUE NÃO?   

Schlesinger considera que “sacrifício financeiro” é uma frase quase inexistente no mundo das finanças pessoais, porque a maioria dos especialistas está concentrado em aumentar os ativos com um objetivo temporal de longo prazo: a reforma. Um dos efeitos que a pandemia provocou nas pessoas foi a consciencialização de que não somos eternos e que eventualmente podemos nem conseguir chegar à reforma e é uma boa ideia pensar em como usufruir de algum dinheiro no imediato. Nesse sentido, os especialistas financeiros devem estar atentos e conhecer os clientes, a autora de “Jill on Money” considera que a maioria se afasta das questões emocionais, embora os melhores e mais caros consultores tenham em consideração este fator. Os seres humanos são por natureza complexos, têm necessidades diversas e vidas confusas. "De facto, é preciso saber quem são os clientes. E penso que a pandemia acelerou essa tendência".

Schlesinger considera que, antes da pandemia, daria às pessoas alguns conselhos bastante padronizados sobre dinheiro, começando por referir os três pilares das finanças pessoais: "Eis o que devem fazer: crie um fundo de reserva de emergência, pague as suas dívidas e tente reservar dinheiro para a reforma. Por regra, estes pilares teriam o mesmo peso".

A IMPORTÂNCIA DO FUNDO DE EMERGÊNCIA

A especialista observa que existia uma resistência à criação de um fundo de emergência, mas depois da pandemia, em que muitos profissionais ficaram sem emprego ou os negócios tiveram que fechar portas, ficou provado que essa “almofada financeira” é fundamental. As pessoas com quem Schlesinger contatou e que tinham fundos a que podiam recorrer, passaram pela pandemia de uma forma muito diferente do que as que não tinham esta segurança. Atualmente, a consultora continua a mencionar os três pilares, mas o fundo de emergência ganhou muito mais protagonismo.

Não era inaudito as pessoas fazerem grandes mudanças nas suas vidas antes da pandemia, mas também não era particularmente comum. A maioria das pessoas tinha uma carreira e uma trajetória previsível até à reforma, dando o melhor para a manter, e só grandes acontecimentos como o divórcio e a morte provocavam alterações, mas a pandemia trouxe muito mais fatores para cima da mesa: a saúde mental, o isolamento e eventos de trabalho adversos.

Cada vez mais a valorização da felicidade e das questões emocionais surge nas escolhas que fazemos para a nossa vida profissional, enquanto as decisões que tomámos para alcançar um objetivo financeiro distante deixam de fazer sentido. "E talvez seja este momento em que diz: 'porque é que vivo a mil milhas de distância dos meus pais? Porque escolhi trabalhar tão arduamente quando na verdade não tenho a certeza de gostar realmente do meu trabalho; mas sei que amo os meus filhos e já não quero trabalhar desta maneira".

A grande barreira à mudança - mesmo quando parece ser a escolha óbvia - é o medo. Mas para Schlesinger, a pandemia fez com que as pessoas começassem a ter coragem e a procurar uma oportunidade no caos. "E não estou a falar de oportunidade de mercado, mas de vida.”

Os especialistas em finanças pessoais têm de levar em consideração que a pandemia fez com que as pessoas sentissem que precisavam de assumir o controlo das suas vidas de uma forma mais ativa, defendendo as suas necessidades e desejos mais imediatos.

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